Ayrton Montarroyos lança seu novo álbum, “A Lira do Povo”
O pernambucano Ayrton Montarroyos apresenta seu novo álbum batizado por Hermínio Bello de Carvalho: “A Lira do Povo” que chega a todas as plataformas digitais no dia 07 de junho pela gravadora Kuarup com participação especial de Alaíde Costa nas faixas “A Estrada do Sertão” e “Gas Neon” . Montarroyos explora a cultura do homem brasileiro, sua relação com o sertão, a cidade e o mar. O folclore, a oralidade e as histórias de pescador são elementos importantes de que o artista, juntamente aos três músicos com quem divide o palco (Arquétipo Rafa – percussão, baixo e direção musical, Ariane Rodrigues – Flautas e Rodrigo Campos – violões) e o coro formado por Rhaissa Bittar, Mari Tavares e Tatiana Burg, faz uso.
Em “A Lira do Povo” o protagonista não é apenas o sujeito, mas o objeto dessa história. Os acontecimentos em sua vida são exagerados e levados ao extremo, tornando-se também figuras centrais. Um pássaro-observador acompanha, como figurante metafórico, o desenvolvimento desse personagem, representando o sentimento brasileiro e suas modificações, de acordo com a realidade que se apresenta. Ao final da terceira das três suítes que compõem a apresentação, o pássaro é enxotado pelo ritmo acelerado da vida urbana, com seu tempo apressado e suas distrações.
Ayrton busca explorar os significados que os objetos e as palavras possuem a partir da convenção humana, ressignificando verdades e seus processos. Além de se debruçar na tentativa de despertar a consciência do público sobre o mundo que lhe forma, criando seus próprios mitos. A “lira”, tanto do produto cultural do povo, quanto a palavra usada para referir-se ao instrumento musical que simboliza a criação e a música, permeia o disco para além do título.
Sobre a obra, o artista comenta: “Este álbum não é um retrato do Brasil. Também não é um recorte da memória afetiva do povo brasileiro ou a projeção de um país ideal ou não.
“A Lira do Povo” nasce da vontade de fazer sentir o personagem que somos nós, utilizando dos recursos estéticos que dispomos: som, luz, o teatro, cheiros e sentidos. Sendo a canção popular brasileira, de João Pernambuco a Kiko Dinucci, o principal material utilizado. Não poderia ser outra música, de outro país ou povo, pois queremos evocar uma história de um homem brasileiro, que pode acidentalmente ser real, mas que por nós, artistas, foi inventado. Inventado como qualquer folclore, qualquer mito.
O que era pra ser uma apresentação de músicas interioranas, criou asas e transformou-se num apanhado de signos, numa festa, numa dança do povo, num suspiro, num grito também. Foi sabendo dessas coisas que o meu amigo Hermínio Bello de Carvalho, compositor dos grandes, batizou essa apresentação e tudo o que nasce dela, com título semelhante a um que já havia usado em seus trabalhos, que são sempre grandes estudos sobre o Brasil. O que me fez gostar ainda mais do título.
"A ideia de viver uma história no disco através do trígono “sertão > mar > cidade” não me sai da cabeça há muito tempo. Uma frase de João Cabral de Mello Neto me atiçou lá atrás: “[...] ambidestro do seco e do úmido, como em geral os recifenses”. Essa imagem do povo que teve que sair do sertão para viver no litoral, fundando uma capital que tem tamanho de metrópole e jeito de interior me tomou desde então. Nos meus escritos, há quase cinco anos, venho, sem saber, elaborando as direções e caminhos para a condução deste espetáculo, elegendo canções e parceiros possíveis de dividir esse sonho que agora se torna mais que real: irreal na sua plenitude”, comenta Ayrton Montarroyos.
Roteiro
Suíte I – Mítica [das coisas do interior do homem]
Nesse primeiro bloco, encontra-se o personagem em si. Talvez no seu sertão interior, movido pelas dúvidas, graças e habilidades que sua vida lhe reserva. Há um sentimento aqui: talvez o de mudar de vida, de criar novas histórias e de viver sob outras histórias criadas por outrem. Nota- se que a vida já está em movimento, as coisas antecedem os homens, como as palavras que ele gasta diariamente ou o sabor da vida. Os músicos estão na plateia antes mesmo da plateia chegar ao teatro. Sentados, esperam como todos a hora do espetáculo começar, de frente para o palco, onde há um imenso espelho redondo, suspenso ao centro.
- O Trenzinho do Caipira (Villa Lobos/Ferreira Gullar) 1978
- Viola Fora de Moda (Edu Lobo/Capinan) 1973
- Citação de “Upa, Neguinho” (Edu Lobo / Gianfrancesco Guarnieri) 1965 Citação de “Antônio das Mortes” (Sérgio Ricardo/Glauber Rocha) 1964
- Guriatã de Coqueiro (Severino Rangel) 1930
- Pé do Lajeiro (João do Valle/José Cândido/Paulo Bangu) 1956 Citação de “Passarinho” (João do Vale/José Lunguinho) 1979
- La Paloma (Sebastian Yradier/Vers. Pedro de Almeida) 1914
- Citação de “Se Tu Quiser” (Xico Bizerra) 1995
- A Estrada do Sertão (João Pernambuco/Hermínio Bello de Carvalho) 1985
- Última Mentira (Fagner/Capinan) 1975
Suíte II – Lírica [da viagem, o mar profundo e suas incertezas]
Dos amores que estão no mundo para as pessoas, da frustração, do encantamento, da confusão. Objetos elaborados ao revés da vontade, mas também pela vontade. Gesta-se saudade e vontade de fuga, negação de um amor, de um universo...
- Canção Passarinho (Luis Violão) 1977
- Línguas de Fogo (Sidney Miller) 1974
- Citação de “Sol Negro” (Caetano Veloso) 1965
- Arrebentação (Sérgio Ricardo) 1971
- Inserção de trecho de “Temporal” (Paulo Ruschell) na voz de Inezita Barroso 1956
- A Mãe D’Água e a Menina (Dorival Caymmi) 1985
Suíte III – Épica [do encontro consigo, da finitude, as cidades]
Têm-se que viver a vida que se criou, mas até quando? Descobre-se que assim como para as fábricas, o ente humano pouco importa. O produto é a própria Vida. Vida essa provinda da ideia dos homens, maior que eles. A mítica que paira no ar e o choque da sua colisão com a vida que leva os homens. A descoberta de si, através da imensidão do que foi criado, do mundo. A vida continua, as coisas passam, os músicos saem caminhando pelo público, cantando a canção que nunca será a última.
- Gás Neon (Gonzaguinha) 1974
- O Ferroviário (César/Círus) 1973
Citação de “É de Fazer Chorar” (Luiz Bandeira) 1957
- Macauã (Sérgio Ricardo) 1974
- Plataforma (Yuri Queiroga) 2012
- Febre do Rato (Kiko Dinucci) 2020
- Conceição (Jair Amorim/Valdemar de Abreu “Dunga”) 1956 Citação de “Pauapixuna” (Paulo André/Ruy Barata) 1977
- As Ilhas (Astor Piazzolla/Geraldo Carneiro) 1975
- Maré (domínio público)
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Música
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