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Modelo transdisciplinar propõe olhar completo para a pessoa neurodivergente


O conceito de neurodivergência vai muito além de um diagnóstico médico, abrange diferentes condições, como o Transtorno do Espectro Autista (TEA), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH), altas habilidades e superdotação, além de envolver formas singulares de funcionamento cognitivo e emocional. Uma pesquisa do Conselho Federal de Administração (CFA) mostrou que, apesar de a maioria das organizações reconhecerem os benefícios da neurodiversidade, apenas uma em cada dez empresas as aborda em seus programas de inclusão.

De acordo com um estudo divulgado pela comissão da revista The Lancet, em 2020, os riscos são elevados de ansiedade, depressão e suicídio em indivíduos no espectro autista. Pesquisas também identificam vulnerabilidade emocional em pessoas superdotadas quando suas necessidades não são compreendidas. A Sociedade Brasileira de Pediatria, em 2019, destacou ainda as dificuldades de interação social e o perfil sensorial atípico, que podem causar sobrecarga. Segundo a psiquiatra Dra. Isla Queiroz Álvares, a neurodivergência é ampla e complexa. “Frequentemente adultos e adolescentes enfrentam barreiras invisíveis que minam sua qualidade de vida, apesar de uma aparente autonomia. A ciência nos mostra que, sem o suporte adequado, o custo pode ser alto”, destaca.

Diante desse cenário, a especialista defende um modelo de cuidado que ultrapasse intervenções isoladas. “A resposta não está em uma soma de tratamentos fragmentados, mas na abordagem transdisciplinar e multimodal”, explica. Esse modelo propõe que profissionais de diferentes áreas, como saúde mental, educação e funcionalidade, trabalhem de forma integrada em um plano de cuidado único e compartilhado. “Não se trata de cada um fazer a sua parte, mas de construir uma estratégia sinérgica, onde o progresso em uma área potencializa os ganhos em outra”, explica.

“O nutricionista não prescreve um alimento que o paciente não tolera; o fonoaudiólogo trabalha as habilidades de mastigação e sensibilidade oral; o terapeuta ocupacional ajusta o ambiente; e o psicólogo trata a ansiedade social. A equipe atua em conjunto para expandir o repertório alimentar de forma segura, promovendo saúde e inclusão”, exemplifica Álvares.

Diretrizes internacionais já reforçam a importância desse tipo de abordagem, o National Institute for Health and Care Excellence (NICE), recomenda equipes integradas para o tratamento de autismo e TDAH. Além disso, uma revisão publicada em Psychiatric Services, em 2022, confirma que intervenções multicomponentes são mais eficazes para promover qualidade de vida e inclusão do que abordagens isoladas. “Na prática, isso significa que o terapeuta ocupacional pode auxiliar na regulação sensorial para que o psicólogo avance na terapia da ansiedade, enquanto o neuropsicopedagogo adapta estratégias cognitivas e o orientador profissional ajusta o ambiente de trabalho às necessidades do indivíduo”, afirma a psiquiatra.

“Para adolescentes e adultos neurodivergentes, especialmente aqueles com nível 1 de suporte ou altas habilidades, a abordagem transdisciplinar é a chance de serem vistos em sua totalidade, com suas vulnerabilidades acolhidas e suas potencialidades estimuladas”, destaca a psiquiatra. “Esse é um modelo que integra ciência, ética e inclusão, garantindo que o cuidado esteja sempre centrado na pessoa e não apenas em seu diagnóstico”, finaliza.

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