Novo single de PC Silva exalta poeta icônica do Sertão do Pajeú
A verve poética expressada em décadas cerzidas sob versos e estrofes pela quase octogenária Severina Branca - personagem grafada na paisagem cultural do Sertão pernambucano - embala o novo single do cantor PC Silva, conterrâneo e admirador da obra da poeta. A música “A Flor das Algarobas” chega às plataformas de streaming nesta sexta-feira (31 de agosto), como uma homenagem à artista do Serrote Pintado, lugarejo na zona rural de São José do Egito, cidade notabilizada pela produção incessante de repentes, cordéis, emboladas, cantorias e outras formas improvisadas de manifestações artísticas populares.
Ouça aqui a composição: https://tratore.ffm.to/aflordasalgarobas
A composição é a segunda tornada pública do novo álbum, batizado de “Me Dê Notícias do Universo” e com estreia programada para o mês de outubro. PC lançou, dias atrás, “Beira de Mar”, uma incursão sonora apocalíptica por uma distopia futurista do planeta arrasado por catástrofe climática. O tributo a Severina Branca dissolveu, segundo o cantor, uma sensação de incompletude em relação à lista final das músicas selecionadas para o disco - quando “A Flor das Algarobas" entrou, o cantor e compositor percebeu o material todo enquanto um produto artístico pronto para degustação do público.
PC Silva colore a homenagem sonora com a sutileza, a candura e a fortaleza evocadas pelas poesias de Severina Branca, poeta sem oportunidade de educação formal e construída pela habilidade de transpor para as palavras as vivências e agruras do cotidiano sertanejo. Cercada pelos versos desde a infância, ela desenvolveu habilidade poética própria baseada na cultura oral e garimpou inspiração em amores, saudades, perdas, tradições, decepções e sofrimentos no dia a dia e nos cabarés frequentados na sua juventude boêmia.
Severina é conhecida pelo uso do mote (verso duplo e repetitivo balizador do poema inteiro) autobiográfico “O silêncio da noite é que tem sido / Testemunha das minhas amarguras”, já tomado emprestado como título no documentário sobre poetas locais assinado pelo cineasta Petrônio Lorena. Em “A Flor das Algarobas”, a letra de PC Silva sob melodia de Juliano Holanda faz uma alusão elogiosa à homenageada com base na passagem icônica. “Nomes e cores / Dores e amores / Poeta fêmea / Serás e foste / Mais que o silêncio é / Poeta fêmea”.
A canção passeia por construções subjetivas e descrições poéticas sobre a vida, a obra e a essência da mulher Severina, com exaltação da coragem, da delicadeza e das experiências - afetivas e carnais - compiladas por noites e anos. Ou “Luzir na mata / Fundo profundo / calor no vendaval”, como diz a letra debulhada exclusivamente sob voz e violão para harmonizar com a simplicidade das poesias criadas por Severina.
“A Flor das Algarobas” se inspira e remonta a duas canções conhecidas pela exaltação contundente de personagens marcantes. “Giulietta Masina”, de Caetano Veloso, criada em homenagem à atriz italiana habitué de filmes dirigidos pelo cineasta Federico Fellini, e “Eleanor Rigby”, de Paul McCartney e John Lennon, sobre uma mulher marcada por juntar arroz após um casamento e um misterioso Padre McKenzie.
O tributo feito por PC Silva a Severina transcende a figura da poeta e lança um duplo olhar artístico sobre as nuances de uma região vocacionada para a cultura da palavra. Evidencia a força representativa da poesia para a afirmação, o reconhecimento, a emancipação e a constituição social, afetiva e identitária das mulheres oriundas de locais historicamente marcados pela prevalência de costumes masculinos. É igualmente significativo porque ilustra a importância e a resistência da oralidade, da tradição e da poesia enquanto elementos essenciais à formação da identidade, da produção artística e da inserção social. No sertão de Severina, a poesia tem vez e voz - e quem silencia é a noite.
SERVIÇO
A Flor das Algarobas, de PC Silva e Juliano Holanda
Lançamento: 29 de agosto, nas plataformas digitais
A FLOR DAS ALGAROBAS
(PC Silva / Juliano Holanda)
Versos de prata
Peito de chumbo
Carmim de amor carnal
Flor de cor roxa
Bonina rosa
Dourado matinal
Nomes e cores
Dores e amores
Poeta fêmea
Serás e foste
Mais que o silêncio é
Poeta fêmea
Luzir na mata
Fundo profundo
Calor no vendaval
Marrom ameixa
Prazer da prosa
Noturno castiçal
Nomes e cores
Dores e amores
Poeta fêmea
Serás e foste
Mais que o silêncio é
Poeta fêmea
Irmã da solidão
E amiga de quem é
Sua pariceira
A noite vai trazer
Tecidos pra vestir
A flor das algarobas
(Severina Branca)
Ouça aqui a composição: https://tratore.ffm.to/aflordasalgarobas
A composição é a segunda tornada pública do novo álbum, batizado de “Me Dê Notícias do Universo” e com estreia programada para o mês de outubro. PC lançou, dias atrás, “Beira de Mar”, uma incursão sonora apocalíptica por uma distopia futurista do planeta arrasado por catástrofe climática. O tributo a Severina Branca dissolveu, segundo o cantor, uma sensação de incompletude em relação à lista final das músicas selecionadas para o disco - quando “A Flor das Algarobas" entrou, o cantor e compositor percebeu o material todo enquanto um produto artístico pronto para degustação do público.
PC Silva colore a homenagem sonora com a sutileza, a candura e a fortaleza evocadas pelas poesias de Severina Branca, poeta sem oportunidade de educação formal e construída pela habilidade de transpor para as palavras as vivências e agruras do cotidiano sertanejo. Cercada pelos versos desde a infância, ela desenvolveu habilidade poética própria baseada na cultura oral e garimpou inspiração em amores, saudades, perdas, tradições, decepções e sofrimentos no dia a dia e nos cabarés frequentados na sua juventude boêmia.
Severina é conhecida pelo uso do mote (verso duplo e repetitivo balizador do poema inteiro) autobiográfico “O silêncio da noite é que tem sido / Testemunha das minhas amarguras”, já tomado emprestado como título no documentário sobre poetas locais assinado pelo cineasta Petrônio Lorena. Em “A Flor das Algarobas”, a letra de PC Silva sob melodia de Juliano Holanda faz uma alusão elogiosa à homenageada com base na passagem icônica. “Nomes e cores / Dores e amores / Poeta fêmea / Serás e foste / Mais que o silêncio é / Poeta fêmea”.
A canção passeia por construções subjetivas e descrições poéticas sobre a vida, a obra e a essência da mulher Severina, com exaltação da coragem, da delicadeza e das experiências - afetivas e carnais - compiladas por noites e anos. Ou “Luzir na mata / Fundo profundo / calor no vendaval”, como diz a letra debulhada exclusivamente sob voz e violão para harmonizar com a simplicidade das poesias criadas por Severina.
“A Flor das Algarobas” se inspira e remonta a duas canções conhecidas pela exaltação contundente de personagens marcantes. “Giulietta Masina”, de Caetano Veloso, criada em homenagem à atriz italiana habitué de filmes dirigidos pelo cineasta Federico Fellini, e “Eleanor Rigby”, de Paul McCartney e John Lennon, sobre uma mulher marcada por juntar arroz após um casamento e um misterioso Padre McKenzie.
O tributo feito por PC Silva a Severina transcende a figura da poeta e lança um duplo olhar artístico sobre as nuances de uma região vocacionada para a cultura da palavra. Evidencia a força representativa da poesia para a afirmação, o reconhecimento, a emancipação e a constituição social, afetiva e identitária das mulheres oriundas de locais historicamente marcados pela prevalência de costumes masculinos. É igualmente significativo porque ilustra a importância e a resistência da oralidade, da tradição e da poesia enquanto elementos essenciais à formação da identidade, da produção artística e da inserção social. No sertão de Severina, a poesia tem vez e voz - e quem silencia é a noite.
SERVIÇO
A Flor das Algarobas, de PC Silva e Juliano Holanda
Lançamento: 29 de agosto, nas plataformas digitais
A FLOR DAS ALGAROBAS
(PC Silva / Juliano Holanda)
Versos de prata
Peito de chumbo
Carmim de amor carnal
Flor de cor roxa
Bonina rosa
Dourado matinal
Nomes e cores
Dores e amores
Poeta fêmea
Serás e foste
Mais que o silêncio é
Poeta fêmea
Luzir na mata
Fundo profundo
Calor no vendaval
Marrom ameixa
Prazer da prosa
Noturno castiçal
Nomes e cores
Dores e amores
Poeta fêmea
Serás e foste
Mais que o silêncio é
Poeta fêmea
Irmã da solidão
E amiga de quem é
Sua pariceira
A noite vai trazer
Tecidos pra vestir
A flor das algarobas
(Severina Branca)
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Música
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